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Os dois são advogados. Ela tinha uma empresa em Belo Horizonte, onde trabalhava com a mãe. Ele atuava num grande escritório de Direito, também na capital mineira. Além de terem a mesma formação profissional, os dois são praticantes de escalada e compartilham a paixão pela natureza e pela vida ao ar livre.
As afinidades do casal Gisele Lima e Juliano Stockler Ferraz foram além. Os dois decidiram deixar o trabalho que tinham em Belo Horizonte para se dedicarem à produção de cogumelo shiitake, no distrito de Macacos, em Nova Lima.
“Eu moro em Macacos desde 2014. Sempre tive a vontade de ter um negócio aqui. Mas trabalhava em Belo Horizonte e ficava com aquele sonho. O espaço do terreno não era suficiente para fazer uma pousada, por exemplo, mas daria para produzir alguma coisa”, relata Gisele Lima.
Foi quando ela resolveu pesquisar o mercado de cogumelos, visitou locais de produção e se capacitou. Os investimentos no cultivo do shiitake tiveram início em 2019, mas foi só no ano passado que as vendas começaram. Foram construídas duas estufas, na propriedade conhecida como Fazenda Musashi. Uma das estufas é para a fase de maturação e outra para a frutificação dos cogumelos.
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O shiitake, como os demais cogumelos, é um fungo. Ele se desenvolve em um substrato que o casal já compra pronto de uma empresa paulista. O material é feito principalmente de serragem, bagaço de cana ou de milho. Neste composto são inoculados os micélios, que é a parte vegetativa do cogumelo e responsável pela absorção dos nutrientes.
Os substratos com os micélios inoculados ficam em sacos e permanecem cerca de quatro meses na estufa de maturação. Depois, seguem para a sala de frutificação, onde passam por alguns processos, entre eles um banho de água fria. Em aproximadamente uma semana depois, eles começam a produzir.
“A gente escolheu o shiitake porque ele tem um valor agregado um pouco maior e ele não precisa de uma temperatura tão baixa. Então optamos por ele por ter um investimento um pouco menor”, explica a produtora.
O casal cuida de todo o processo: cultivo, colheita, embalagem e entrega. A produção de shiitake na fazenda está em torno de 100 bandejas de 200 gramas por semana. A maior parte é entregue diretamente aos consumidores. Mas a produção também é comercializada em uma feira de Belo Horizonte e numa loja de produtos naturais.
Recentemente, a Gisele e o Juliano diversificaram as opções para os consumidores. Além das bandejas de shiitake, também estão vendendo conservas de shiitake fresco e conservas de shiitake defumado. Em breve, também vão iniciar a produção do cogumelo desidratado.
Como a atividade ainda é recente na propriedade, eles afirmam que ainda estão aprendendo muita coisa e pagando o investimento feito. Mas estão com boas perspectivas, principalmente pelo bom retorno que recebem dos clientes e pelo aumento do mercado de produtos veganos e vegetarianos. Além disso, o casal destaca a possibilidade de estar diariamente ao ar livre, trabalhando com uma atividade rural.
“Embora o retorno financeiro não seja o mesmo que tinha no escritório de advocacia, estou mais satisfeito. Hoje tenho minha autonomia, meus horários”, afirma Juliano Ferraz.
Capacitação de produtores
De acordo com o técnico da Emater-MG em Nova Lima, Glaidson Guerra, o cultivo de cogumelos no município é favorecido pelo clima com alta umidade e pela localização na Região Metropolitana, onde existe um grande público consumidor, além de vários restaurantes, feiras e mercados. A produção estimada do município está entre 10 e 12 toneladas por ano.
Além do shiitake, existe em Nova Lima a produção dos cogumelos shimeji, hiratake, cogumelo salmão e shimeji flórida. “Temos cinco produtores de cogumelos em Nova Lima, mas estamos com um programa de capacitação em andamento, com mais 24 potenciais produtores. Esta capacitação é feita numa parceria da Emater, prefeitura, Senar e produtores do município com cultivos já consolidados, que também participaram do processo de construção do conhecimento”, explica o técnico.
Para dar início à capacitação, foi feito um levantamento da demanda de pessoas interessadas. No grupo, existem moradores de Nova Lima e pessoas que têm sítio no município, mas residem em Belo Horizonte. Há também produtores rurais que já desenvolvem outras atividades agrícolas, como o plantio de hortaliças, e querem aumentar a renda.
Durante a capacitação, são feitas visitas às propriedades de produtores de diferentes tipos de cogumelos. “A ideia é capacitar outras pessoas para fazer uma corrente de produção e fortalecer a cadeia produtiva de cogumelo”, relata Glaidson Guerra. Atualmente, por causa da pandemia, as aulas práticas e visitas para capacitações estão suspensas.
Pioneiro
O produtor Roney Bernardes Rocha é pioneiro na produção de cogumelos em Nova Lima. Ele começou na atividade em 1987, num sítio em Confins, outro município da Região Metropolitana. Mas surgiu a necessidade de procurar um local onde houvesse um mercado consumidor mais amplo e com clima mais adequado ao cultivo de cogumelo.
A mudança para Nova Lima foi em 1994, onde se instalou numa área de Mata Atlântica e criou a marca Cogumelos do Caminhante. Hoje ele cultiva quatro tipos de cogumelos, com certificação orgânica. A produção está em torno de 600 quilos por mês. O produtor também investiu na venda de produtos congelados à base de cogumelos, como lasanha, quibe e empadas.
“A maior parte da produção vai direto para a casa dos consumidores. A entrega em domicílio é o nosso forte, representa 80% das vendas. Uma parte também é vendida em feiras de produtos orgânicos de Belo Horizonte”, explica Roney Rocha.
Na propriedade, ele conta com 17 estufas, incluindo as incubadoras. Para dar conta da produção, o Roney Rocha trabalha com a família e mais quatro funcionários regulares. Mas ele também contrata mão de obra temporária quando há necessidade.
A propriedade dele também é muito utilizada para a capacitação de pessoas interessadas em começar na atividade. O Roney Rocha é um entusiasta do fortalecimento de uma cadeia de produção formada por pequenos produtores, vendendo para mercados locais.
“Estamos até hoje num modelo pequeno. O que a gente busca é conseguir um preço justo pelo que produzimos, aprimorar, criar outros serviços e novos produtos. Mas não aumentar o volume da produção, até para não gerar impacto no local. Temos toda essa preocupação”, afirma.
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