13/set

O clientelismo familiar e as cidades interioranas – Lucas Molusco

As cidades interioranas possuem um ambiente único de conexão entre as pessoas. Todo mundo conhece todo mundo e os laços entre indivíduos são o alicerce dos negócios e das relações interpessoais. Sobrenomes tradicionais são conhecidos, venerados e enaltecidos. Você é filho de quem? Com esta simples, mas recorrente pergunta, o interlocutor consegue extrair as informações sobre a confiabilidade do indivíduo, os possíveis laços futuros e balizar, a partir daí, o tom da conversa.

Conheça os colunistas do Jornal Minas

Se as famílias norteiam os negócios, naturalmente também regem a dinâmica da política. Dessa forma, enquanto que nos jogos de guerra o objetivo é a conquista de territórios, aqui o alvo é o núcleo familiar.  E, nesse caso, a proposta de emprego para um membro é uma das principais estratégias para garantir a vitória. Esse tipo de troca por apoio político é tão enraizado nas eleições do interior, que é comum ouvir a frase “você quer ser vereador? Arruma um empreguinho para mim”.

E não são apenas os cargos da Câmara que são ofertados no balaio político. Diante da efetividade dessa prática para garantir a reeleição, vereadores frequentemente também negociam funções na Prefeitura. Isso perpetua um ciclo vicioso de fortalecimento das famílias tradicionais, que detêm o controle de vagas não só da iniciativa privada – pois geralmente são donos dos negócios, mas também da máquina pública.

Isso gera nas cidades interioranas o completo esvaziamento político ideológico, que também se estende ao campo técnico. Infelizmente, não necessariamente o “fi di quem” é capacitado para o cargo proposto e, este jogo de indicações, prejudica as políticas públicas e seu papel social.

Somado a isso, tem sido raro o lançamento de candidatos que tenha posição ideológica clara, já que quase não existem liberais, progressistas ou socialistas e, o embate ideológico entre direita e esquerda é residual.

Nesse contexto, a efetividade técnica e a paixão política são deixadas de lado e as eleições municipais tornaram-se um jogo de grupos de famílias buscando o poder, no qual a moeda principal é a oferta de trabalhos em troca de voto.

 

Por Lucas Molusco

Compartilhar esta notícia:


Comentários

Ainda não recebemos comentários. Seja o primeiro a deixar sua opinião.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *



Redes sociais
Jornal Minas