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Passageiros de Nova Lima, Raposos e Rio Acima questionam o aumento da tarifa de ônibus e a qualidade dos serviços

Passageiros da região metropolitana de Belo Horizonte foram surpreendidos com o aumento da tarifa no transporte público neste domingo (17). A regulação foi autorizada pela Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra) que, em nota publicada no site do órgão, informa que o percentual de 4,85% “leva em consideração apenas a inflação para o período e o valor de reajuste do óleo diesel, de acordo com os índices da Agência Nacional do Petróleo”.

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O ajustamento, no entanto, causou indignação aos usuários da Saritur, concessionária de transporte intermunicipal que atende as cidades de Nova Lima, Raposos e Rio Acima. Eles alegam que, além de arcar com uma das passagens mais caras da Grande BH, não foram previamente comunicados.  A auxiliar de farmácia Nayara Correia, moradora de Raposos, trabalha em Belo Horizonte e foi pega de surpresa na manhã desta segunda-feira (18). Para ela, o descontentamento vai além do preço da passagem, pois as condições e o descumprimento dos horários não justificam o valor cobrado pela empresa.  “Eu acho um absurdo, tendo em vista que em plena pandemia temos ônibus cheios, muitas vezes com goteira, bancos quebrados e horários que mudam sem aviso”, diz Nayara.

 

Nayara Luana Pereira Correia, 33 anos, Auxiliar de Farmácia -Moradora do bairro Recanto Feliz/Raposos

 

Nas redes sociais, usuários reclamam contra condições precárias na infraestrutura que não são resolvidas, como a superlotação e a falta de assentos vazios em horários de pico. O trajeto, que costuma durar mais de uma hora até o centro de Belo Horizonte, na maioria das vezes é feito com o passageiro em pé, pois não há lugares disponíveis. Para conseguir uma vaga, Nayara conta que precisa chegar à rodoviária de Raposos 40 minutos mais cedo, porém na volta, ela não tem a mesma sorte. “Sempre venho em pé e super apertada em meio a outras pessoas, de tão cheio que está”, reclama.

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Em tempos de pandemia e com protocolos rigorosos necessários para evitar o contágio, os passageiros têm de lidar com a insegurança de transmissão da COVID-19, já que não há nenhuma fiscalização em relação às medidas de prevenção dentro dos ônibus e o contato físico entre os ocupantes. Enquanto que nos estabelecimentos comerciais é exigida a distância mínima de um metro e meio entre os clientes, no transporte público, eles têm de compartilhar o mesmo espaço abafado e esbarrando um no outro.

Custo alto da passagem prejudica trabalhadores

O preço, também é apontado como obstáculo para os trabalhadores da região que, devido a pouca oferta de trabalho em Nova Lima, Raposos e Rio Acima, têm de buscar oportunidades em outras cidades da Grande BH. Essa é uma discussão recorrente entre os usuários que também não foi resolvida pelo poder público. A coordenadora de crédito imobiliário, Sílvia Rafael, moradora de Nova Lima, também questiona essa dificuldade. “Pesa demais no orçamento e tira chances de trabalho, já que são quase R$15,00 por dia de passagem. Infelizmente o patrão não vai querer pagar e acaba saindo do bolso do trabalhador”, diz.

 

Silvia Rafael, 35 anos, Coordenadora de credito imobiliário – Moradora do bairro Vila Passos/Nova Lima

 

Essa é também a opinião da auxiliar administrativo Jucilene Freitas, também moradora de Nova Lima. Segundo ela, a nova taxa prejudica os habitantes em relação à empregabilidade.  “Vêm pessoas de Belo Horizonte para trabalharem no bairro Vila da Serra devido à passagem da região do Barreiro ser mais em conta para o empregador, fazendo com que o nova-limense fique em desvantagem”, conta. Ela ainda destaca que o custo relativo ao trajeto de Nova Lima à capital, comparado a outros itinerários intermunicipais, causa estranhamento no valor cobrado da passagem. “Sempre achei muito caro por ser um pequeno percurso comparado a outras cidades da região metropolitana”, explica.

Jucilene Freitas, 43 anos, auxiliar administrativo – Moradora do bairro Barra do Céu/Nova Lima

 

Outra questão é o reajuste em plena pandemia, já que a crise econômica afeta a população e isso pode comprometer ainda mais as demissões que ocorrem no momento. “É abusivo em um momento no qual estamos tentando sobreviver e arcar com despesas básicas do dia a dia”, diz.

Falta de transparência na nova tarifação

O psicólogo e ativista do MLB – Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas, Jobert Jobão, acompanha de perto a reinvindicação por passagens com valores mais justos e melhor infraestrutura para os usuários. Segundo ele, dados que justifiquem o reajustamento é a primeira questão a ser debatida. “A empresa deve apresentar números, explicando os gastos e expondo também as receitas. Em lugar nenhum do Brasil há esse tipo de transparência”, diz.  Ele ainda explica que a alta no preço dos combustíveis é uma das principais justificativas das empresas, já que alegam que este é o principal insumo que incide sobre o custo da passagem.  “De fato, o díesel sofreu mais de 30 reajustes no ano de 2020, quase todos aumentando o combustível. Então não dá pra fazer uma avaliação apenas local, deslocada da realidade nacional. Porém, por se tratar de um serviço de concessão pública na esfera municipal, esses dados deveriam ser absolutamente transparentes para que a população pudesse ter clareza do que ela está pagando quando há aumento”, ressalta.

 

Jobert Jobão, 37 anos, Piscicologo e ativista de MLB – Morador do bairro Cariocas/Nova Lima

 

Outra questão é sobre a forma como foi feita a precificação que, segundo ele, é “prerrogativa do poder público fazer a gestão do contrato com as empresas que executam o serviço”. Ainda de acordo com ele, a majoração da “tarifa só poderia ser autorizada mediante aval do poder executivo, como é feito em grande parte dos contratos no Brasil”. Ele explica ainda que, caso “esse aumento feito em Nova Lima, se realizado de forma unilateral pela empresa, muito provavelmente terá resquícios de ilegalidade.”, finaliza.

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Nossa redação entrou em contato com a empresa Saritur e a Prefeitura de Nova Lima e não obteve resposta até o fechamento desta matéria.

Atualização 27/01/2021

Em nota a Prefeitura de Nova Lima informa que é responsável pela concessão do transporte municipal, que hoje pertence à Via Ouro, e não há previsão de aumento do preço das passagens neste momento. Com relação ao transporte intermunicipal, esclarece que a concessão é de responsabilidade do Departamento de Edificações e
Estradas de Rodagens de Minas Gerais (DER-MG).

Por Ana Carina Rodrigues

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