24/jan

Prefeitura de Nova Lima pretende gastar R$ 600 mil em medicamentos sem eficácia comprovada

A vereadora Juliana Sales solicitou ao prefeito João Marcelo esclarecimentos sobre a intenção de compra de três medicamentos, considerados sem eficácia comprovada, para o tratamento da Covid-19: hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina.

No texto, assinado pela parlamentar, ela pede que o Executivo apresente “estudos técnicos utilizados para justificar o referido processo licitatório” e também “motivação para realizar tais gastos em detrimento da aquisição de mais vacinas e insumos no combate à pandemia do novo coronavírus”.

 

Vereadora Juliana Sales

 

O ofício emitido pela vereadora, na sexta-fetira (22), pretende fiscalizar o propósito da possível aquisição dos fármacos já que, após divulgação, também realizada ontem , do edital de pregão, a Prefeitura  de  Nova Lima vai na contramão da ciência. Os medicamentos listados no documento são refutados por profissionais da área de saúde, estudos científicos internacionais e órgãos como o Conselho Nacional de Saúde

(CNS) e Anvisa, que já emitiram diversos comunicados atestando a ineficácia e desencorajando o tratamento.

O médico infectologista Dr. Guenael Freire, da Secretaria de Saúde de Nova Lima, é uma das autoridades no assunto que alerta sobre a ineficácia da medicação.  A orientação de Dr. Guenael é embasada tanto pelos estudos científicos, quanto pelo exercício da profissão. Ele explica   que “é preciso saber que a COVID-19 tem evolução imprevisível, mas na maioria das vezes o quadro é leve, como uma gripe. E o tratamento, nestes casos, é reduzindo os sintomas com repouso e hidratação”. É diante desse cenário, que pode surgir a convicção de que os medicamentos são eficientes, o que na opinião dele, não é verdade. Ele esclarece que, em casos leves, se for prescrito determinado medicamento “o paciente vai melhorar com, sem ou apesar da medicação”. Ou seja, não foi o remédio em si que melhorou o quadro do paciente, mas o fato de que o estado não era tão grave.

 

Dr. Guenael Freire, infectologista da Secretaria de Saúde de Nova Lima.

 

À frente do combate à COVID-19 desde o início da pandemia, o infectologista relata que os Centros de Terapia Intensiva (CTIs) estão repletos de pessoas que fizeram o tratamento precoce, ou seja, utilizaram medicamentos para não se infectar ou não deixar a doença evoluir.  Ele diz que “muitos morreram acreditando que eles ofereciam alguma proteção”.

Recentemente, o médico diz ter recebido o áudio de uma pessoa que relatava “que na família dela todos fizeram o tratamento preventivo e quase todos adoeceram, e o pai precisou ficar hospitalizado”.  “Se realmente fosse útil”, continua o médico, “não iria proteger estas pessoas e o homem da hospitalização”?

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População reage

Desde o anúncio do edital, nova-limenses têm questionado a postura da Secretaria de Saúde e, principalmente, a preocupação em relação ao uso do erário.

A Bacharel em Direito Elisabete Oliveria, define a atitude como um “desatino do prefeito João Marcelo” e diz não conseguir entender essa iniciativa “Já vimos vários estudos e opiniões de médicos e especialistas que falam de uma forma bem clara que não existe eficácia. Fico muito desconfiada desse desespero dos políticos em enfiar essa cloronoquina na população”, desabafa.

Elisabete Oliveira, Bacharel em Direito.

 

Apesar de a maioria dos moradores questionarem, há opiniões também favoráveis, como a do comerciante Leonardo Fernandes. Ele explica que nesse cenário de pandemia “cientistas, médicos, políticos e a população possuem opiniões diversas e ainda não foi estabelecida a verdade absoluta sobre o vírus e seu tratamento.” Ele observa que “em vista que inúmeras pessoas relatam melhoras na saúde com o uso dos medicamentos hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina, a prefeitura de Nova Lima faz bem em adquirir e colocá-los à disposição da população”, explica. Sobre a comprovação científica, ele diz que também não há provas de que “o uso de máscaras e fechamento de comércio são eficazes na prevenção da doença, no entanto vários prefeitos optam por essas medidas por acreditarem que serão benéficas”.

 

Leonardo Fernandes, comerciante.

 

Porém nas redes sociais, o que não faltam são críticas. Veja algumas a baixo:

 

Prefeitura diz ser medida de urgência, porém não obrigatória

No edital, a Prefeitura afirma que a medida é mais um dos esforços para “enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus”.  A previsão é de aquisição de 60 mil comprimidos de hidroxicloroquina de 400 mg; 100 mil de ivermectina, de 6 mg, e 20 mil comprimidos de azitromicina, de 500 mg e o custo estimado é de R$ 637.812. O pregão será realizado no dia 27, às 9h.

Em nota à imprensa, a prefeitura justifica que “não se trata de uso obrigatório desses medicamentos e nem de distribuição em massa, e sim de mais um serviço que a população terá acesso em decisão compartilhada com seu médico”.

A resposta da Administração, no entanto, aflige e deixa ainda mais indignada a população, pois, mesmo que seja um tratamento que pode ou não ser utilizado de acordo com decisão entre médico e paciente, a aquisição, na opinião dos nova-limenses, é descuido com o dinheiro público de uma cidade que, desde 2017 enfrenta austeridade fiscal. Para a advogada Elisabete Oliveira, essa atitude é “um crime contra a população e a Câmara e o Ministério Público devem investigar”. Na opinião dela, “a cidade carece de investimentos e o dinheiro do contribuinte não pode ser desperdiçado”.

Dr. Guenael, ratifica a preocupação com o destino dos recursos públicos.  Uma das questões que ele aponta em relação à aquisição dos medicamentos pelo Executivo é o custo. “Se quer usar medicamento sem efeito por conta própria, menos mal. Mas o poder público não pode gastar o dinheiro do povo com medicamentos sem eficácia”, explica.

Por Thiago Carvalho

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