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Setor de estética em crescimento – Faltam próteses de silicone por causa do lockdown

As restrições impostas pelo novo coronavírus afundaram a economia mundial, mas o setor estético no Brasil – líder em cirurgias plásticas – ultrapassou o abismo graças ao desejo de muitas pessoas de aproveitar a quarentena para melhorar a aparência.

Regiane de Oliveira Sousa é uma delas. “Um dos motivos foi aproveitar o ‘home office’ para fazer a cirurgia” sem ter que ir ao escritório neste período, conta a representante comercial de 38 anos, que nos últimos seis meses fez um peeling, uma redução de mamas, uma lipoescultura e uma harmonização facial.

Sousa, que fez a primeira cirurgia plástica há 14 anos, decidiu agora injetar ácido hialurônico nos lábios porque percebe mais o seu rosto na falta de uma “rotina agitada”.

A operação, em uma clínica de estética em um bairro nobre de São Paulo, custou-lhe R$ 3.800, quase quatro vezes o salário mínimo no Brasil.

“Em casa, tenho tempo de sobra para me olhar no espelho”, explica ela, afirmando que muitas de suas amigas fizeram o mesmo.

Sua médica, Cintia Rios, lembra que este ano os quatro procedimentos estéticos mais populares – mamoplastia, lipoescultura, botox e preenchimentos – “aumentaram em torno de 40%”, apesar de não terem ocorrido entre março e maio devido à quarentena decretada após o início da pandemia da covid-19.

“Aumentei a equipe, contratei mais três funcionários. A beleza não está em crise, graças a Deus!”, comenta.

A especialista se surpreendeu com a forte demanda por correção de orelhas, uma intervenção geralmente realizada em crianças.

“Acho que é porque você prende a máscara e passa a olhar para as orelhas”, diz.

Mas também há um boom de estética labial, em um momento de aumento da quantidade de videoconferências.

“Parecia que o mundo ia acabar”, lembra Thiago Aragaki, dentista de uma pequena clínica odontológica na Zona Leste da maior cidade sul-americana.

“Em junho retornamos, com segurança, com os protocolos. Teve paciente que sumiu com medo de pegar doenças bucais [que afetam a imunidade], mas notamos um aumento da procura por alguns tratamentos”, afirma Aragaki, que alterna o consultório odontológico com harmonização facial.

Para Rita Monteiro Meireles, o avanço da pandemia que já deixou quase 184 mil mortos no Brasil não a impediu de recorrer às agulhas.

“Não acredito que todo mundo esteja infectado e não podemos parar a vida por causa de uma doença”, argumenta, enquanto aguarda o efeito da anestesia para passar por um procedimento labial semelhante ao de Regiane Sousa.

Impedida de sair ou viajar, Meireles, de 34 anos, viu na pandemia uma oportunidade de usar o dinheiro economizado para acelerar o processo de transformação física que começou há três anos, após se divorciar.

“Não gostava do meu rosto do jeito que estava. E depois, assim que terminou a bichectomia eu era a pessoa mais feliz da vida”, acrescenta Meireles, sorrindo, que já fez cirurgia nos seios, enquanto aprecia no espelho sua nova boca, ainda inchada e vermelha.

A busca por mudanças físicas funciona como um “paliativo” em momentos de grande incerteza, segundo Henriette Morato, doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP).

“É meramente encontrar paliativos para ter uma pseudo dominação, controle sobre as coisas do mundo e sobre mim, uma coisa que a pandemia agora esta me impedindo”, explica.

“Um ano atípico” 

Embora as duas clínicas relatem aumento na quantidade de seus procedimentos, o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Denis Calazans, alerta que para o setor “2020 foi um ano difícil, não foi um mar de rosas”.

“Está sendo um ano atípico, os números vão ficar aquém do que a gente observa em anos pré-pandemia”, ressalta Calazans, que destaca que algumas clínicas que propõem intervenções simples conseguiram se manter com mais facilidade.

Além disso, o teletrabalho e as economias proporcionadas por estar em casa motivaram muitos a “investir em si mesmos”, acrescenta.

Um dos desafios do setor foi garantir a importação de próteses mamárias, conta.

O Brasil é líder mundial em cirurgias plásticas (13,1% do total), segundo números da International Society for Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS, por sua sigla em inglês), divulgados em 2019.

Na categoria de procedimentos não cirúrgicos, apesar da explosão de 2019 (+39,3%), o país continua somente atrás dos Estados Unidos.

Por Paula Ramon

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