03/abr

Padres de Nova Lima e Raposos falam sobre os desafios das celebrações da Semana Santa na pandemia

Em uma passagem bíblica, Jesus diz que os verdadeiros adoradores não adorarão o Pai única e exclusivamente dentro do templo, “mas adorarão em espírito e verdade”. Essa passagem, do Evangelho escrito por São João evangelista, ilustra a nova realidade da igreja que, pelo segundo ano consecutivo, recorreu às transmissões online como forma de prosseguir o ofício da fé e levar mensagem de esperança e conforto aos cristãos.

Dessa forma, falar diante das câmeras tem sido um dos desafios que a pandemia trouxe à vida dos líderes religiosos, acostumados com as celebrações presenciais e as procissões. Os padres Fernando Lima, pároco da Igreja  N. Sra. da Conceição, em Raposos e, padre Fernando do Nascimento, da Igreja N. Sra. do Pilar, em Nova Lima, falam sobre essa mudança e a falta que sentem da proximidade  e da interação dos fiéis dentro dos templos.

Segundo padre Fernando Lima, “a presença do povo é sempre de forma afetiva e efetiva dentro da comunidade de fé. Não existe igreja sem povo”.  Essa frase reflete o sentimento pela ausência física dos fiéis na celebração do mistério maior que é a paixão, morte e ressurreição de Jesus.

De acordo com eles, a nova realidade sem essa proximidade, exige um esforço para manter o mesmo nível, o respeito à fé e assim, minimizar os impactos que possam comprometer o entendimento da mensagem de reflexão durante os cultos.

Captar a atenção desse público e evitar a sua dispersão, já que eles se encontram em ambientes com vários estímulos, instiga maior empenho dos párocos.  Seja ao assistir em casa ou no trabalho, a interação entre eles pode ser prejudicada por variáveis como o cotidiano ou afazeres. Porém, no decorrer das transmissões, os padres perceberam que, aos poucos, o público começou a se acostumar a essa nova forma de celebração.

Pe. Fernando Lima

Apesar dos desafios, o novo formato permitiu aumentar a audiência, devido às possibilidades de alcance das redes sociais, e ainda trouxe uma grata surpresa. Padre Fernando Lima comenta que foi surpreendido com a notícia de que raposenses que não moram há anos na cidade, estão acompanhando as transmissões da paróquia.  Segundo ele, esse sentimento de afetividade que essas pessoas ainda nutrem pelo município e pela comunidade o deixa muito feliz.

Outra vantagem que a plataforma permite é o mapeamento do público por meio das interações vias chats. Fiéis enviam comentários e pedidos de orações que são recebidos pela equipe das pastorais de comunicação (PasCom ).  Padre Fernando Nascimento, da igreja de Nova Lima, explica “eu não consigo falar com precisão, mas pelo que já pude perceber, alcançamos uma quantidade significativa de pessoas e um publico bastante misto”. Com isso, conta que é possível saber se é um jovem, um adolescente, um idoso ou um enfermo, pois são perceptíveis as características nas mensagens enviadas.  Essa observação também é compartilhada pelo padre de Raposos ao comentar que, além das informações obtidas por meio das redes sociais, o monitoramento dos comentários, mensagens e compartilhamentos do conteúdo da igreja,  permite observar a interação física entre os fiéis no dia a dia, seja nas ruas da cidade ou na própria secretaria paroquial.

Pe. Fernando do Nascimento

O trabalho da PasCom também foi beneficiado diante do novo cenário.  As equipes já atuavam antes da pandemia, mas diante da necessidade da prestação de um serviço mais profissional para a comunidade religiosa, elas passaram por um processo de reformulação com capacitação dos voluntários. Padre Fernando do Nascimento diz  que “a arquidiocese, por meio da sua Assessoria de Comunicação, investiu na qualificação dos líderes da pastoral para que possam ofertar com excelência os serviços de  transmissão das celebrações nas paróquias”.

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No entanto, mesmo diante dessa estrutura, os clérigos ainda sonham com a volta das celebrações com a participação dos fiéis e as procissões.  Padre Fernando Lima faz uma reflexão sobre uma delas que é a Procissão de Encontro. Realizada na quarta-feira santa, o rito encena o encontro de Jesus com sua mãe Maria na subida para o monte Calvário. O pároco cita ainda o poeta Vinícius de Moraes “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro” e faz uma analogia desse momento, no qual os encontros estão cada vez mais difíceis. Já padre Fernando do Nascimento, diz que “tudo isso é passageiro e que, mesmo nos privando dos encontros, estamos preservando o bem maior que Deus nos deu que é a vida”. Para ele, “embora Semana Santa ocorra todos os anos, cada momento é único e precisa ser levado em consideração pois fazem parte da história de muitos em relação a sua fé e a interação com Deus”, conclui.

Por Roberto Márcio

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